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Conto: Palácio Invisível sobre o Indivisível

E ele bem imagina que naquela madrugada em que eu me entregava ao seu olhar, um universo de pecados e milagres esperavam pela sua chegada.

Uma cerveja, duas, três e o suficiente pra confiar nos seus braços e ir pra onde me levasse. Poderia ir adiante se ele entendesse o meu mundo, que não é menor que o dele. É o tamanho da vontade que não cabe nos planos pra sintonizar. 


Estávamos comemorando, cada qual a sua novidade, com singeleza e exaustão. Ele, um ano novo, e eu um novo dia. Foi nos meus braços que decidiu ficar. Pois então foi nos dele que eu escolhi estar. Estouramos não um champagne, mas as possibilidades de qualquer apropriação indébita. Não teve nada à recusa. Nada a faltar ou sobrar. Coube direitinho, inclusive cada coisa que dissemos. Nenhum pudor sobre nossos devaneios, cicatrizes ou receios. Nenhum medo ou censura. Nenhuma busca por qualquer cura. Nenhuma opinião obscura.

Seria capaz de permanecer por horas ou dias naquele quarto que foi o universo pros nossos astros mesmo sem saber dos nossos signos. Não havia segredo. Muito menos desabafos, desaforos ou cansaço. Nos tínhamos inteiros, verdadeiros. Acho que isso é o que mais me atenta a pensar nele com desejo. Existe mais! 


A sensação de que algumas 10h do tempo não buscariam o seu retorno tão breve novamente. Que poucos minutos não me levariam ao seu colo mais uma vez... Mas ele disse que havia tempo que me observara. Eu não quis saber dos detalhes. Só queria ir... E ir... E sair dali de onde vinha sem pensar pra onde iria. Eu, ele e toda a poesia do simples, prático e desnudo sentido.

Foste no primeiro momento infinito do ano numa noite indefinida, realeza. Noite indiscreta. Irreverente. Irreparável. E ele nem sabe disso mas já me transformou rainha. E eu em ti, um rei de um país escondido. Palácio invisível. Dos contos e encantos que me levem a cada pedaço dos seus cantos, lembrarei.


(RJ; 03/03/2018)

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