Hoje de manhã, saindo da feira da Glória (primeira vez na vida q consegui comer um pastel lá!), meus pés não aguentavam de cansaço do salto alto que estava usando pois trabalhei de 17h à 1h com eles, encontrei os amigos e fui relaxar. Quem troca o dia pela noite na função sabe o que é isso. Ao voltar pra casa, decidi me descalçar. Decidi me libertar do que me incomodava e me permiti sentir na pele o que é não ter um par de sapatos pra caminhar. Segui caminhando descalça da Glória à Tijuca, passando pela Lapa, no ponto de ônibus, no ônibus... Entrei no supermercado Pão de Açúcar descalça e mesmo sendo observada o tempo todo, não houve uma pessoa sequer para me abordar.
Nessa experiência, um misto de liberdade, consciência, entrega (abandonei o medo de machucar os pés), respeito, plenitude... Mas também vergonha. Vergonha por saber que se minha pele fosse mais escura ou se eu estivesse mal vestida, certamente essa minha liberdade de escolha (nesse caso) ao desapego teria sido tolida. Certamente eu viria a passar pela hostilidade, teria sido humilhada e considerada às margens dessa sociedade hipócrita. Descalcei meus sapatos. Descalcei-me de qualquer preconceito. Descalcei-me da dor e da alienação. Descalcei meus semelhantes da culpa e da opressão. O respeito começa dentro de nós. Nada aconteceu aos meus pés. O meu caminho eu sigo conscientemente leve.
(RJ; 25/02/2018)
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